quarta-feira, 23 de abril de 2014

Testemunho da Leonor - Uma bebé prematura



Foto da Leonor no Hospital, com a sua irmã

Há três anos fiz a viagem mais (in)tensa da minha vida. Ao fim de quase dois meses de internamento, a Leonor teve alta do hospital e veio para casa. A Leonor nasceu prematura, de 29 semanas, seis dias antes do Natal de 2010, depois de eu ter um descolamento parcial de placenta. Com os pulmões muito imaturos, a Leonor esteve com oxigénio durante todo o internamento.
Lembro-me de ver os bebés a chegarem à neonatologia e a terem alta e a Leonor lá continuava agarrada ao "vício" que lhe permitia respirar um pouco melhor. O apoio e disponibilidade que recebemos das enfermeiras, médicos e pessoal auxiliar foi essencial. Durante o internamento da Leonor, sabíamos que não estávamos em casa, mas sentíamos que havia sempre quem se preocupasse verdadeiramente com ela, que tratasse dela com carinho, com empenho. Num dia em que a mana Carolina, com 4 anos a foi visitar, uma das enfermeiras perguntou-lhe se queria pegar na Leonor ao colo. Os olhos da Carolina brilharam! Que responsabilidade!
A Leonor crescia aos poucos mas continuava na incubadora para ter o oxigénio mais concentrado.
Para quem, como nós, nunca teve qualquer contacto com este mundo novo, não foi fácil acreditar que tudo ficaria bem, que seria uma questão de tempo até que ela conseguisse respirar sem o auxílio do oxigénio.
No início de Fevereiro, os médicos começam a pensar na hipótese de lhe dar alta ainda dependente de oxigénio. Isto implicava que nós conseguíssemos tratar dela com um tubo agarrado ao nariz. Nenhum de nós tem qualquer formação na área da saúde e por isso era quase impensável trazer uma bebé para casa com necessidade de uma vigilância especial para garantir que o nível de oxigénio era o adequado. Quando a expectativa da alta se tornou mais forte, decidimos optar pelo aluguer e posterior compra de um oxímetro que nos permitisse medir os níveis de oxigénio no sangue ao longo das 24 horas do dia. Este aparelho fez com que nos sentíssemos mais seguros de que o oxigénio estava efectivamente nos níveis certos.
Do dia da alta, ficou-me na memória o olhar comovido das enfermeiras, o longo corredor do hospital, no caminho para a saída, o segurança que nos desejou o melhor do mundo, ao sairmos.
A viagem do hospital para casa foi relativamente curta, mas pareceu durar uma eternidade. O pai a conduzir, cuidadosamente, eu no banco de trás ao lado dela, sem tirar os olhos dos números que me indicavam que ela estava a respirar bem. À chegada a casa, o meu pai e a mana mais velha, com 4 anos esperavam ansiosamente a chegada da bebé.
Os primeiros tempos em casa não foram fáceis, mas rapidamente nos habituámos a tratar desta bebé especial com que fomos presenteados. Mais frágil do que a irmã, as bronqueolites, tosses e ranhoca têm-na acompanhado ao longo dos Invernos. Apesar de tudo, é rija, ultrapassa relativamente bem estes contratempos, nestes 3 anos, teve apenas um internamento, por precaução. Este último ano tem corrido melhor, parece que está a ficar mais resistente, está a crescer.
E hoje, olhando para ela, ninguém dirá que nasceu com 1300 kg, 6 meses e meio.

Foto Leonor com 3 Anos, com a sua irmã

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